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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Zé Pilintra


Zé Pilintra Valentão

Qualquer um que se aventure a traçar a trajetória de um mito, certamente descobrirá que em torno dele existe um sem números de histórias, muitas delas inverossímeis, entretanto, impossíveis de refutação. O mito sempre se confunde com a realidade e, deste modo, ninguém pode contrariar a fé dos crentes, sob pena de alienar-se do mundo vibrante e mágico que envolve as crenças populares.

Sobre o Zé Pilintra, existem várias histórias contadas de boca em boca, tão cheias de ousadia e mistério quanto as de outros mitos nordestinos tais como o cangaceiro Lampião e sua parceira Maria Bonita; o bandido Cabeleira; o cangaceiro Corisco e tantos outros.

Todos que conhecem ou ouviram falar de Zé Pilintra concordam ao menos em um ponto: ele era um pernambucano “cabra-da-peste” que não levava desaforo pra casa, frequentava os cabarés da cidade de Recife, defendia as prostitutas, gostava de música, fumava cigarros de boa qualidade e aprecisava a bebida.

Contam que nasceu no povoado de Bodocó, sertão pernambucano próximo a cidadezinha que leva o nome de Exu, à qual segundo o próprio Zé Pilintra quando se manifestava numa mesa de catimbó, foi batizada com este nome em homenagem, já que sua família era daquela região antes mesmo de se tornar cidade.

Fugindo da terrível seca de meados do século passado, a família de José dos Santos rumou para a Capital Recife em busca de uma vida melhor, mas o destino lhe roubou a mãe, antes mesmo que o menino completasse 3 anos e, logo a seguir se pai morreu de tuberculose . José dos Anjos ficou orfão e teve que enfrentar o mundo juntamente com seus quatro irmão menores. Cresceu no meio da malandragem, dormindo no cais do porto e sendo menino de recados de prostitutas. Sua estatura alta e forte granjeou-lhe respeito no meio da malandragem. Não apartava nunca de uma peixeira de seis polegadas de aço puro que ganhara de um marinheiro inglês com o qual fizera amizade.

Conta-se que, certa vez, Zezinho, como também era conhecido, teve que enfrentar cinco policiais numa briga no cabará da Jovelina, no bairro de Casa Amarela.

Um dos soldados recebeu um corte de peixeira no rosto que decepou-lhe o nariz e parte da boca. Doze tiros foram disparados contra Zezinho, mas nenhum deles o atingiu. Diziam que ele tinha o corpo fechado.

Naquele mesmo evento, Zezinho conseguiu desvencilhar-se dos soldados, ferindo-os gravemente, um dos quais veio a falecer dias depois. Antes que chegassem reforços, Zezinho já tinha fugido ileso, indo se esconder na casa do coronel Laranjeira, um poderoso usineiro pernambucano, protetor do rapazote. Contava ele, naquela ocasião com 19 anos de idade e por este fato passou a se chamar Zé Pilintra Valentão. Este apelido foi dado pelos próprios soldados da polícia pernambucana. Pelintra significa pilantra, malandro, janota etc.

Tempos depois de sair do esconderijo, Zezinho agora apelidado de Zé Pelintra Valentão, passou a fazer fama na cidade de Recife. Embora fosse querido por todos que o conheciam, não perdia uma briga e sempre saía vitorioso.

Gigolô inveterado, tinha mais de vinte amantes espalhadas pela cidade, das quais obtinha dinheiro para sua vida boêmia. Sempre vestido em impecáveis ternos de linho branco, camisas de cambraia adornadas por uma gravata de seda vermelha e um lenço branco na algibeira do paletó; na cabeça um chapéu panamá e os sapatos de duas cores compunham-lhe o tipo. Não raro poder-se-ia encontrá-lo sobraçando um violão pequenino, indo ou vindo das serestas, dos cabarés e botequins que frequentava. Nunca lhe faltava dinheiro no bolso, nem amigos para mais um trago.

Aos domingos, todos podiam ver Zé Pelintra Valentão entrando na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro de Recife, para fazer suas orações. Dizia-se também devoto de Santo Antônio, lá estava o Zé Pelintra Valentão, impecável com seu terno de casimira, pronto para a procissão pela Avenida Conde da Boa Vista.

A morte de Zé Pelintra Valentão ocorreu misteriosamente. Conta-se que aos 41 anos, ainda muito moço, Zé amanheceu morto, sem nenhum vestígio de ferimento externo. Soube-se, entretanto, que Zulmira, uma das suas amantes, tinha feito um “trabalho” para ele. Tinha um filho, que Zé Pelintra recusava registrar como dele. Zulmira tinha um ciúme doentio de Zé Pelintra, e por causa dela ele já estivera envolvido em muitas brigas e confusões. Ela queria Zé Pelintra só pra si. Assim, contam que lhe dera um prazo de sete semanas para que ele deixasse as outras amantes e fosse para a sua casa no bairro de Tamarineira. Zé Pelintra não foi e acabou sendo envenenado. Zulmira, depois da morte dele, sumiu de Recife e nunca mais se soube dela nem do filho.

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