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domingo, 2 de maio de 2010
Preto Velho não dorme de barriga pra cima
Poema sobre a Vida de um Preto velho Chamado Joaquim
Costurando a pequena rede, ja com dedos sacrificados pela lida da colheita a Preta Velha virava o olhar para a pequena estrada de terra onde saia para trabalhar o velho Joaquim, na sacola tambem feita pela velhinha ainda em uso por muitos anos estava um pedaço de pão, um pedaço bem servido de broa de milho e uma lasca de toucinho.
Sabia que iria esperar bastante por seu querido Joaquim, que viria cansado, com fome e as vezes machucado nas suas costas pela chibata cruel do senhor dos escravos.
Suas costas eram sempre castigadas, não seria somente estes cortes que sangravam, tambem ardiam suas mãos na lida, mas os cortes piores seriam em suas costas, feitos pelos chicotes dos capitães pela demora na produção a ele destinada, não tinha a idade dos jovens, a sua era avançada para seu trabalho, mas cada dia mais seu balaio de cafe estava menos cheio, tambem demorava mais que os outros, para carregar ate a secagem, e o resultado disso tudo estava tatuado nas marcas vermelhas em suas costas.
Mas da lida tirou o tempo, e com seu tempo criou a esperança, quando voltava pra senzala criou a alegria, premio garantido pelo credo imposto pelos outros negros nas curas de suas ervas e mãos outrora macias.
Trazia todos os dias um punhado de cafe nos bolsos e um pedaço de rolo de fumo, seu suor se confundia com a pele molhada do sangue em suas costas ultrapassando o tecido grosso de algodão surrado pelo sol e pelas batidas nas pedras do rio quando era alvejado pela Preta Velha.
Nossa querida Preta Velha sabia que tinha todos os dias remover as sujeiras das chagas do seu Joaquim, remover as sujeiras sim, pois os remedios eram ervas e muito amor, mesmo que feitos com cuidados nas feridas outrora abertas que novamente sobrepostas as novas aqui para serem cuidadas.
Reclamara seu Joaquim com um resmungo no canto oposto da boca que segurava seu cachimbo, quando a Preta Velha colocava o ticido limpo e umedecido em cima do dorso umido de sangue, Preto Velho so dorme de barriga pra baixo, pois as chagas nas costas não deixam dormir de barriga pra cima.
Quando Reza deixa sua oração nas palhas voltando sua cabeça para baixo, quando tem sede pega o copo de barro e entorna em sua boca sem mover seu corpo, pratica comum de quem não se virar em seu leito.
Recebe a luz do luar em suas costas, pois seu coração esta virado sustentando a dor dos cortas a serem cicatrizados.
Suas horas são curtas de descansos, pois antes do sol nascer começaria o novo dia, levanta mais cedo para poder juntar novamente o alimento que lhe da forças sua oração.
Novamente volta se as costas a caminho da lida, fitada a pela Preta Velha, ao qual ve uma mistura de suor e sangue escorrido pelas chagas trazidas do dia anterior, que com certeza juntaria com as que traria hoje, pois a idade do seu Joaquim era demasiada para acompanhar com rapidez as vontade dos senhores das lavouras.
PRETO VELHO NÃO DORME DE BARRIGA PRA CIMA
Autor Emidio de Ogum
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
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