Companheiros espirituais ainda pouco conhecidos na Umbanda, os Caboclos Africanos são en tidades fortes, fiéis e muito alegres. Eles vieram das profundas selvas afri canas, do dos antigos quilombos brasi lei ros e das distantes ilhas do Caribe.
Quando chegam no terreiro soltam seus gritos de guerra: “Huia!”, “Hu huia!”, “Hui!”. Gostam de trabalhar com bom charuto, cachimbo, pembas co loridas e ervas medicinais. Sentam-se no chão, olham fundo nos olhos dos consulentes, cumprimentam com força e passam muita confiança.
A maioria destes espíritos apre senta influências bantu na linguagem, roupagem e modos. A sensação é que estamos falando com um Preto Velho, mas sem a presença do banquinho e das palavras doces. Os Caboclos Afri ca nos usam linguagem mais firme, ex pressões mais coloridas e palavras me nos simbólicas. Vão direto ao assunto.
Pai Manuel da Serraria, velho um bandista e juremeiro, dizia com seu humor habitual:
- “Esses caboclos parecem uma mistura de exu, caboclo e preto velho mandingueiro tudo junto. Que gente grande essa...”
Excelentes combatentes, guerrei ros do Axé e da luz, muito invocados para desmanchar demandas e feitiços. Eles conhecem os mistérios da ciência da Mpemba (pemba) e dos encanta mentos do Mpolo Mpemba (pó de pemba), que utilizam no corte das ener gias negativas com muita destreza. Também usam fubá de milho, carvão, farinha e café para de senhar seus sig nos mágicos no chão. Nas giras não dispensam a fabricação de patuás, amuletos e outras mandin gas de tra dição para ajudar os neces sitados.
Costumam di vidir-se espiri tual men te em sólidas famílias ou clãs como na Mãe África. A mais co nhe cida é a dos “Arranca”, gru po arredio de luta dores das ma tas, que literalmente arrancam as mazelas e miasmas astrais dos lugares e pessoas.
Seus integrantes mais conhecidos são: Arranca-Toco, Arranca-Cruzeiro, Arranca-Pemba, Arranca-Estrela, Arranca-Caveira, Arranca-Pimenta, Arranca-Cobra, Arranca-Feitiço, Arranca-Calunga, Arranca-Sepultura, Arranca-Folhas e Arranca-Dificuldade.
Esta família é predominantemente masculina e não devemos confundir os “Arranca” Africanos com seus irmãos nativos brasileiros que também pos suem o nome arranca (Caboclo Arranca-Toco, por exemplo).
A magia dos felinos está bem repre sentada na pessoa do poderoso Pan tera Negra Africano (parente espiritual do Caboclo Pantera Negra, um tra dicional caboclo de Umbanda) e sua Falange. Outros caboclos africanos tra ba lham sob o glorioso estandarte da Família Malê, levantado bem alto a espada da vitória e cortando a cabeça do dragão da escravidão (moral, espi ritual e material), como os Africanos Mussurumi, Lele Mussurumi e Assu mano.
Na Família dos guerreiros Congos e Angolas estão os Africanos: Azambuja, Calungueiro, Macalé, Mezala e Zam bará. A chefia da tropa está sob a lide rança de Pai Simão Africano, como di zem os mais velhos.
As Caboclas Africanas são autên ticas amazonas. Mulheres que lutavam com facão, lança e porrete ao lado dos homens. As mais famosas, que ainda baixam nas giras, são: Africana Rosa, Africana Maria, Africana Rosária e Afri cana Matamba. Detalhe interessante: o culto aos Caboclos Africanos é mais popular no sul do Brasil, Argentina e Uru guai, regiões que receberam grande influência da cultura do negro bantu. Terreiros de Umbanda Cruzada do Rio Grande do Sul, que trabalham com a tradição do Batuque, conhecem bas tante as mirongas destas entidad es.
LITURGIA: Cores simbólicas (para velas, pa nos e toalhas de oferendas): vermelho, branco, preto e roxo (possuem bastante influência dos Orixás Ogum, Omulu e Obaluaiê).
GUIAS: predominantemente de sementes e dentes de animais ou nas cores acima mencio nadas.
COMIDAS E OFE REN DAS TÍ PI CAS: fei joa da, ovos cozi dos e tempera dos com pimenta branca, ba na nas, laran jas e outras frutas do ces. Ta ba cos for tes (charuto e fu mo de corda), ma rafo, Bomba (marafo com pólvora, pimenta mala gueta e pó de pemba. Observação: a Bomba não se bebe, se oferenda!), marafo ou vinho tinto preparado ervas medicinais e vinho branco.
ACESSÓRIOS DE GIRA: costu mam vestir, sempre que o Terreiro permite, chapéu de palha, lenços no pescoço, colares (guias de trabalho) e lenços na cabeça (africanas).
PONTOS DE CHAMADA DA LINHA:
Na linha de africano
Ninguém pode atravessar.
Ô segura a pemba ê ê,
Ô segura a pemba ê á,
Ô segura a pemba ê ê,
Ô segura a pemba no congá.
A bananeira que plantei na meia-noite
Tinha seu toco na beira do terreiro.
Eu quero ver africano firmar ponto,
Eu quero ver africano feiticeiro!
Aí vem Jesus navegando no mar,
É o Povo Africano que vem trabalhar.
PONTO DE LOUVAÇÃO DA LINHA
O meu pai vem baixando de Aruanda
Para saravá os filhos da Umbanda.
Ele é Africano, ele é feiticeiro,
Vem trabalhar em nosso terreiro!
PONTO GERAL DE
CABOCLO AFRICANO*
No mato tem um toco
Queimado por um raio,
Sou caboclo africano,
Bambeio, bambeio
Mas não caio!
CUIDADO SINHÁ*
Cuidado sinhá menina,
Por onde pisa no mato,
Caboclo africano avisa
Pra tomar muito cuidado!
PONTO DE DESPEDIDA
África lhe chama,
Africano vai embora,
Vai com Deus,
E nossa Senhora!
(* Pontos de Caboclo Africano na
Linha Boi do Mato, Macaya
de Santo Antônio da Jurema).
Autor EDMUNDO PELLIZARI
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
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