Estava eu ali no meio da senzala, uma pequena vela acesa
ainda custava a se apagar, e iluminava as paredes suadas do pó acumulado nos
anos de solidão.
No canto próximo a velha cama de palha, repousava um velho
crucifixo de madeira, talhada pelas mãos de meu avó.
Na improvisada mesa de cabeceira feita de pedaços de madeira,
estava uma tolha branquíssima e em cima dela Nossa Senhora, ofertada pela sinhá.
Deveria como todas as outras noites ir dormir e descansar
meu corpo, mas aquele dia era Natal, e o som vindo da casa grande anunciava um
belo jantar, ouvia-se as risadas, e em meio aos copos brindando um voz ouvi-se
e novamente o brinde surgia, passos de muitas pessoas eu ouvia, e percebi que
chegara a hora da ceia, o senhor da casa tomou a palavra o o silencio se fez no
ambiente, tal como em uma igreja aquelas pessoas começaram a rezar, percebi que
aquela noite seria muito importante para eles.
Peguei meu terço entre os dedos, beijei e olhando para ele
pedi para que o mundo fosse mais justo, pedi por todos que estão sofrendo, pedi
para que o amor saia das mentes e poste-se nos corações, pedi simplesmente pela
paz,
Porque eles rezam meu pai, enquanto sofre o negro na
senzala, como pedir a Deus por nós se nós mesmos nada fazemos por nosso
semelhante, mas que tolice a deles se fartar de comida e ver que outros tem
fome.
Hoje eu entendi tudo que passei, aquele sofrimento me
mostrou muito, mesmo nas horas que meu corpo deitava-se no suor e sangue da
chibata e não perdi a fé, mesmo quando vi meus irmão morrendo a minha frente
açoitados e injustiçados, ainda assim mantive minha fé.
Quando deixei este mundo, tive a permissão de voltar para
contar minha história, sentado em um banquinho de um terreiro poço ajudar as
pessoas, até meu cachimbo foi ofertado por uma pessoa que me ama de verdade, não
vim contar coisas de outras vidas, vim somente mostrar o amor, vim dizer que a
fé esta dentro de cada coração e o alimento desta fé é a oração, quando
desencarnei eu fui para um lugar cheio de luzes, um lindo jardim com flores, lá
disseram se eu tinha raiva daqueles que feriram meu corpo, disse que não, pois
o julgamento não pertencia a mim, e naquele momento foi me dito que deveria
ajudar as pessoas que chegavam recém desencarnados, no meio de muitos encontrei
o senhor dono dos escravos, no meio de uma névoa escura, estava assustado, ali
estendi minha mão, segurei a dele e disse-lhe, senhor não tenha medo, estou
aqui para cuidar do senhor, não julgarei seus erros, e nesses anos que estará
aprendendo, serei seu amigo.
Este homem reencarnou e disse em um dia de Natal:
Pai cuida de seus filhos, brancos, negros, índios e
amarelos, cuida de suas mentes, faça do seu dia um dia de reflexão, faça que
todos rezem uma só oração, traga de volta o amor meu Pai, perdoe nossos
pecados, perdoe aqueles que não sabem amar seu semelhante.
Vovô Benedito da Cachoeira
Que a Divina Luz esteja entre nós
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
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